O IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - iniciou ontem o 12º Censo Demográfico Brasileiro. Para nós, meros espectadores dessa operação gigantesca, o Censo resume-se em atender - ou não! - um recenseador nossa porta - para os que porta têm - e responder a algumas perguntinhas cujo conteúdo - sigiloso - será armazenado via pequeno dispositivo digital de mão.
A grande preocupação de alguns talvez seja conseguir identificar os 'verdadeiros' funcionários do órgão - algo me diz que o número de falso recenseadores intentores de cometimento de alguma atitude criminalmente tipificada irá aumentar vertiginosamente nos próximos meses-, ou talvez a incerteza de responder alguma pergunta sobre orientação/opção/histórico/doença sexual.
Particularmente, ao falar em censo, penso nos historiadores que nascerão nos séculos que nos seguem. A riqueza das fontes a eles disponível é de causar inveja a qualquer companheiro de profissão do século XX, que busca, em arquivos empoeirados, informações escassas - escritas por algum clérigo, possivelmente - para formar um panorama que ele supostamente acredita existir. Inveja maior ainda tenho eu da liberdade que ele terá para olhar para esse nosso mundo, sem estar bombardeado pelas crenças desestruturantes do tempo em que vivemos.
É realmente fascinante imaginar que podemos apreender o mundo por meio de números e gráficos em formato de pizza. Mais fascinante ainda é sonhar em apreender esse mundo sem o menor sentimento de obrigação de tentar mudá-lo: eis a grande dádiva do historiador. Afinal, como mudar um mundo que o tempo deixou para trás? Seria, de fato, confortante tal possibilidade; pena ter o historiador de viver em um mundo para poder olhar para outro que não o alcança mais.
A grande preocupação de alguns talvez seja conseguir identificar os 'verdadeiros' funcionários do órgão - algo me diz que o número de falso recenseadores intentores de cometimento de alguma atitude criminalmente tipificada irá aumentar vertiginosamente nos próximos meses-, ou talvez a incerteza de responder alguma pergunta sobre orientação/opção/histórico/doença sexual.
Particularmente, ao falar em censo, penso nos historiadores que nascerão nos séculos que nos seguem. A riqueza das fontes a eles disponível é de causar inveja a qualquer companheiro de profissão do século XX, que busca, em arquivos empoeirados, informações escassas - escritas por algum clérigo, possivelmente - para formar um panorama que ele supostamente acredita existir. Inveja maior ainda tenho eu da liberdade que ele terá para olhar para esse nosso mundo, sem estar bombardeado pelas crenças desestruturantes do tempo em que vivemos.
É realmente fascinante imaginar que podemos apreender o mundo por meio de números e gráficos em formato de pizza. Mais fascinante ainda é sonhar em apreender esse mundo sem o menor sentimento de obrigação de tentar mudá-lo: eis a grande dádiva do historiador. Afinal, como mudar um mundo que o tempo deixou para trás? Seria, de fato, confortante tal possibilidade; pena ter o historiador de viver em um mundo para poder olhar para outro que não o alcança mais.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito bom texto! De um tema quase banal para uma reflexão filosófica tão poética =)
ResponderExcluirO historiador não muda o mundo, mas sua percepção dele (o que em certas instâncias pode ser a mesma coisa). Curioso notar, que quanto menos informações tivermos sobre um mundo, mais radicalmente ele muda conforme nossas inclinações.
Agora, que engano seria achar que apreendemos o mundo num censo, ou que somos capaz de dominá-lo através dessa informação. Outro engano também, seria pensar que o senso é imparcial - que mar caótico de parcialidades se batendo naqueles números.
Eu, particularmente, não invejo os historiadores do futuro (haverá?, pois penso que o MEU passado é mais colorido. Digo isso porque no meu passado, os castelos, as espadas e os deuses ainda se digladiam... só faltava um menino para sonhar com ele, agora não falta nada.
Bacanão. A epígrafe de 'o norte agrário e o império' do evaldo cabral de mello diz "A história do período vitoriano não será jamais escrita: conhecemos demasiado a seu respeito. [...]".
ResponderExcluirO Valdei tava falando, nesse colóquio de história intelectual, que com a massa documental gigantesca que temos hoje (mesmo sobre o passado, a digitalização de obras, por exemplo, aumentou muito o acesso a fontes) a teoria se faz cada fez mais necessária, justamente para que saibamos o que ignorar...
Eu vi uma tirinha uma vez (infelizmente, não lembro onde ou o autor) em que uma máquina atirava vários papéis ao ar e um cientista diziam emocionado: "temos todas as informações!". Enquanto um segundo cientista perguntava, "mas... qual era mesmo o nosso problema?"