sábado, 22 de junho de 2013

A revolta dos cartazes

Desde que movimentos de protestos saltaram das ruas de São Paulo para todo o Brasil, um série de agentes políticos dizem-se perplexos e sem lograr entender a motivação das manifestações. Solicitam pautas protocoladas, oficiais, de lideranças. O argumento foi para boca também de muitos observadores externos, críticos das revoltas de postagens das redes sociais transubstanciadas em passeatas. A tais desencorajamentos, uniu-se também o argumento do vandalismo, como se não fosse clara a separação entre os que reinvidicam com voz e cartazes aquales que o fazem com pedras.¹
Tenham cuidado com os autodeclarados perplexos, principalmente se ocuparem cargo político. Ou são completamente cegos ou fingem sê-lo (nesse último caso, verdadeira tática de combate). Seja por um ou outro motivo, definitivamente não deveriam ser agentes políticos. Os anseios não são apenas óbvios e de longa data, estão estampados nas mensagens escritas em folhas de papel cenário, cartolina e banners. Cada chefe do executivo, membro do parlamento, secretários de governo e atuante do judiciário sabe - ou deveria saber - exatamente o que fazer. E, se não souber, que deixe o cargo para quem tenha a capacidade e a disposição para tal.
Felizmente, já surgiram promessas contempladores de alguns dos anseios das ruas. Vamos lutar para que se concretizem. E vamos lutar para que sejam apenas o começo. Eu que sempre fui um descrente da mudança pelo voto da cabine, acredito piamente na promovida pelo voto das mensagens carregadas por braços estendidos de manifestantes pelas ruas. 
E quem sabe, daqui a alguns anos, quando um historiador brasileiro esteja escrevendo sobre o movimento que viria a mudar a cara do país, apelide o esperado fenômeno não de revolta do vinagre, mas de revolta dos cartazes. 


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¹ Podemos ainda identicar um terceiro grupo, denominado por Julio Pompeu de criminosos comuns: os que se aproveitam da situação para furtar estabelecimentos comerciais e órgãos públicos. Pompeu também advoga no sentido da desnecessidade de pautas oficiais e da obrigação dos agentes públicos de compreender reinvidicações independentemente delas. Conferir em entrevista dada ao programa Bom dia ES no dia 20/06/13 disponível em http://g1.globo.com/videos/espirito-santo/bom-dia-es/t/edicoes/v/professor-da-ufes-comenta-sobre-a-forca-dos-protestos-nas-ruas/2644764/ (acesso em 22 de junho). 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Sonho

Acordar para o alívio:
apenas um sonho.
Agradecer
à não psicose.

Sim
(quase) tudo se resolve
quando o sonho apenas
é problema.

Acordar para o desespero:
apenas um sonho.
Amaldiçoar
a não psicose.

Sim
(quase) tudo se destrói
quando sonho apenas;
é problema.

Porque sonhar com você
me dói.
Porque sonhar lembra
que não esqueci.

Queria acordar e não me importar
com a lembrança lembrada.
Então paro e penso:
teria sonhado
se não fosse assim?


domingo, 2 de junho de 2013

Sinto sua falta

Sinto sua falta
no café da manhã de domingo;
nesses dias que em que
não há nada bom para fazer.

Sinto sua falta
nessas horas em que
tenho vontade de chorar
porque as coisas perderam a graça.

Sinto sua falta
de novo e de novo
porque é bom distrair o corpo
e ter com quem conversar.

Sinto sua falta
nos passeios que planejei;
nas carícidas delicadas
que você não mais irá dar.

Sinto sua falta
na semana que vem
e no ano que vem
e no tempo depois.

Sinto sua falta
nas festas de aniversário,
nos dias em que algum significado
teria dado a mais para mim.

Sinto sua falta
do meu lado
abraçado
com o coração preste a partir.

Sinto falta afinal
de tudo que poderia
e não foi
de tudo que deixei para trás.

Sinto sua falta afinal
num futuro imaginado
e nesse dado
que não me faz sorrir.