domingo, 18 de fevereiro de 2024

Split

When I saw you arrived alone, I felt happy. Strongly. For I would have time to listen to you. To know you. I would have your rapt attention. It is quite difficult to be in this ambivalent position: with the will to know and the will to give an abiding strong good impression. 

You see... this is no unfamiliar territory to me; but it is one I haven't entered in quite some time. I have found this comfortable place of no intense (but perhaps pent-up) emotion, from which I did not want to leave. 

But then you came along. Or I came along. I've formed this unfortunate habit of make-believe. A escape from a reign of sadness where I rule unjustly and alone. It would be hard to judge me for doing so, but guilt is an obscene loan word coined by the merciless who inhabited this land before me.

When he arrived I felt rather angry. Not at him, I imagine; maybe at you. I don't suppose it showed. I gave in to my weary cynicism and tried somehow to make most of it. And it didn't take me long to realise it. To see beyond the obstacle and into the man. 

Fission. This powerful fatal attraction; that genuine frank admiration. No longer together. Like adultery in a marriage that never took place. I should be relieved in a way, I guess. In an inconvenient way at least. So close strong a tie that severs before it could cement. The faint possibility of passion that is precluded. 

And stands still. Admiration can be drawn; attraction can begin to grow. So I am lost in a maze without exits; though I keep looking for them. A desperate crude attempt to give meaning to something that already meant something else. A schizophrenic relationship to those I stubbornly insist to hold dear.






sábado, 5 de março de 2022

Na manhã do dia seguinte, ele lembrou.

Quando existi, 

perguntaram por quê.

Sou ramo da existência.

Faço parte do que me antecedeu.


Construção passageira de um código perene.

Necessito deste para ser; e este de mim.


Cada trecho, um aglomerado acumulativo.

Produto e causa de sinais vitais.


Quando existi,

perguntaram para quê.

O texto, mesmo com fim,

permanecerá, 

mesmo sem mim.


Cada trecho, um aglomerado acumulativo.

Produto e causa de sinais vitais:

a poesia me recitou.

sábado, 22 de maio de 2021

 

L.,

Escrevo esta carta para alguém que desconheço e conheço. Desconheço porque nunca nos vimos ou falamos: estranho dirigir a palavra nessas condições; não saber exatamente como será a reação a uma leitura íntima vindo de quem existe – na melhor das hipóteses – apenas na imaginação. Porém, também sinto que a conheço. Já vi fotos, ouvi histórias, formulei hipóteses sobre que tipo de pessoa é, seus hábitos, medos, sonhos. E, principalmente, conheci um de seus frutos.

De certo modo então, esta é uma carta de duplo endereçamento. Não quero dizer que esteja com destinatário errado. Pelo contrário: quero muito que leia estas palavras, acredito existir um propósito importante nisso. Mas também não posso afirmar que seja destinada apenas a você. Faz muito mais sentido, principalmente em um primeiro momento, revelar este escrito a T. Assim tenho feito, ainda que numa tentativa mais comedida, recheada de receios: de que se assuste, de que se sinta esmagado por uma avalanche de sentimentos que nem eu saberia precisar e dissecar muito bem. Escolho então um interlocutor especial, que me permita chegar próximo, quase tocar e, com mais tranquilidade, sentir-me escutado.

Primeiramente, queria falar um pouco de mim, ainda que se descrever costume ser uma tarefa ingrata, que se perde entre um anseio – o que gostaria de ser – e uma expectativa – como acho que me veem. Quase sempre é também falha, porque a essência parece muito mais uma construção utópica, uma falácia da qual nos convencemos para poder construir e reconhecer uma imagem no espelho, mas que, no fim, é mutável e incerta. Apesar dessas limitações, quero arriscar-me nessa incumbência, para ajudar a explicar meu propósito aqui.

Em minha autodescrição, entre todas as palavras que poderia usar, eu escolheria falta. Todos temos falta, sentimos falta. Em mim, porém, esse sentimento parece ganhar um contorno mais marcado, mais explícito. Porque sinto falta constante, ainda que não seja uma qualquer: minha falta é de amor. Eu não me lembro de jamais me sentir amado. Minha vida foi marcada por outros personagens muito diferentes, sendo o maior deles o medo. Sempre senti muito medo. Medo de apanhar, de ser humilhado, de ser julgado. Medo de que pudessem olhar para dentro de mim e enxergar tudo que desejo, tudo que temo, e de verem assim o quanto sou só.

Imagine então o que foi para um rapaz que sempre testemunhou e vivenciou esses olhares sádicos esbarrar pela primeira vez com alguém que lhe dissesse sim. Que lhe estendesse a mão e falasse que está tudo bem em ser diferente. Não hesitar em tirar a máscara, despir-se, deixar nu o que esteve por tanto tempo escondido. Eu me apaixonei. Não havia como ser diferente. Não havia como encontrar algo tão raro e não desejar ardentemente. Poderia até dizer que não acreditava na existência de um desejo tão forte. Pelo menos, não mais. Eu era um romântico platônico, mas as experiências mundanas arrancaram, pouco a pouco, a minha gana. Era um cliché invertido: sem receber, também já não podia dar amor.

T. provou que eu estava errado. E o fez da forma mais delicada e generosa possível: tratou-me como um ser humano. E sei que não sou exceção. Sei que sua doçura permeia cada encontro com quem tem a sorte de conhecê-lo. Ele é educado, gentil. Às vezes, quando lembro dele, começo a chorar, porque me dói saber quem algo tão belo existe no mundo. Foi um choque muito forte. Um baque do qual ainda estou me recuperando. Isso me assustou: eu, já tão acostumado com o medo, agora receio não dar conta de tanta ternura, de não ser capaz de retribuir o ele desperta em mim.

Mas não quero ter mais medo.

Então irei me entregar. Irei me esforçar a cada dia para ser alguém melhor, alguém digno de estar ao lado de seu filho. É sonho, quase insólito, imaginar poder acompanhá-lo nessa jornada. Mas é exatamente o que quero. Uma jornada de companheirismo profundo e de um amor que não cabe no peito. Quero vê-lo feliz, extravagantemente feliz, porque assim ele me faz.  E, por isso, eu gostaria de agradecer a você. Por ter trazido ao mundo e ajudado a construir quem mudou a minha vida. Eu o amo, com toda minha alma, e poder amar é o maior presente que já ganhei.

 

Obrigado,

 

Vitória, 30 de agosto de 2018.

 

 

segunda-feira, 9 de março de 2020

Con palabras

Las palabras asustan. Ello aprendí muy temprano. Las palabras crean lo concreto. Transforman en cristal duro  irrompible  lo que antes era fugaz. O no existía. O sólo existía donde se puede tocar. 
Las palabras duelen enormemente. Porque de algún modo son lo más real  o lo único real  que podemos concebir. Los humanos, esos seres-palabras: no porque vocales, sino porque construidos sobre, para y en el límite de las palabras. Más allá nada hay.
Quisiera creer que no es así. E incluso lo hice. Pensé que existiera la transcendencia. O la simple existencia sin que sobre ella fuera obligado a reflexionar. No es que fallé: no había posibilidad. Sufrí, sin embargo, las consecuencias de mi ingenuidad. 
Por ende te lo dije sin palabras. No quería herirte. Herirme. Mas fue exactamente lo que pasó. Porque las palabras estaban allí. En mi mirarte. En mi imaginar que sería posible tenerte in mis brazos. Sentir tu abrazo. Saber lo que significa ser tuyo. Mis manos al tocar tus manos te lo dijeron todo. Usaron todas las palabras ya inventadas y las que aún intentarán - y fallarán - llenar el vacío.  Susurraron 'te quiero' y, al hacerlo,  berrearon mi soledad. 
Quizá por eso nos asustamos y nos alejamos. Ya no podíamos fingir. Mi deseo se volvió cristal  irrompible. Y este ser-palabra ya no tendría chance de decirte nada más. Tu te fuiste, y me quedé a buscar palabras que podrían consolarme. Tan ubicas, y ahora tan fugaces. Tan poderosas, y ahora completamente inútiles. 



domingo, 8 de março de 2020

Desculpe-me

Eu vi seu rosto e não desviei o olhar.
Desculpe-me.

Você sentou-se ao me lado e o cumprimentei.
Desculpe-me.

Fiz perguntas, enquanto não parava de sorrir.
Desculpe-me.

Pedi seu telefone.
Desculpe-me.

Esperei alguns dias, antes de puxar assunto
(tanto medo tinha de não ser respondido).
Desculpe-me.

Quis saber de você, quem é você.
Desculpe-me.

E não cessei quando meu coração já dizia
que era tarde demais.
Desculpe-me.

Quando te vi novamente, me aproximei.
Desculpe-me.

E você, tão gentilmente, não me deixou de lado.
Desculpe-me.

E passei uma tarde de sol
caminhando ao seu lado,
ouvindo sua voz.

Em minha casa, a tarde virou noite.
E que fosse boa companhia
era tudo que queria.

Desculpe-me.
Desculpe-me.
Desculpe-me.

No outro dia, dizer adeus foi difícil.
Segurar as palabras foi difícil.
Desculpe-me.

Esperar e não saber o que seria de nós.
Vê-lo outra vez e sonhar.
Desculpe-me.

Desculpe-me por escolher o momento.
Se as minhas razões não são boas razões.
Se meu coração bate do lado errado.

No momento que você se foi, eu me fui também. A manhã já não era a mesma, e o amanhã deixei para depois.

Desculpe-me.   







sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Apenas palavras

I miss you,
I've been missing you for some time now
for it has been some time now
since we last talked.

I remember how sad I was
even though I forgot how sad I was
for this little while.

I cannot say you healed me
nor that I am healed
I am not healed,
but I'm better.

I've been better for some time now
for it has been some time now
since we last talked.

You helped me so much
and I didn't realised how much
'til you were gone.

That's how it works, isn't it?
You do your thing
quietly, slowly, unpretentiously
and it works.

It works.
It worked for me.
And I thank you so very much,
my love.




segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Seria mais fácil com um sorriso na alma.
Seria mais fácil com esperança de dias melhores.
Seria menos difícil.

Seria mais fácil se crime e castigo recaíssem sobre a mesma pessoa.
Seria mais fácil ter memória no lugar de especulação.
Seria menos difícil.

Seria mais fácil se fosse em outro momento, com outra pessoa.
Seria mais fácil se não houvesse tanto amor.
Seria?

Seria mais fácil se eu não soubesse desde o princípio,
ou, se você soubesse desde o princípio,
teria eu me permitido?

Seria mais fácil, para quem afinal?

Seria mais fácil se pudesse identificar o que aperta mais:
a tristeza, a raiva, a amargura ou a decepção.
Ou talvez fosse até mais difícil.

Seria mais fácil se não fosse tão óbvia
a minha imperfeição.
Seria mais fácil se não fosse tão difícil desculpar.

Seria mais fácil se seu sorriso não fosse tão lindo,
se eu não me sentisse no céu quando estou em seus braços.
Seria mais triste também.

Seria mais fácil se o sim e o não fossem entidades apartadas.
E o bom e o ruim.
E o tudo e o nada.

Seria tão menos difícil.

Seria fácil se você não tivesse me dado tanto
e me tirado tanto,
ao mesmo tempo.

Seria mais fácil se eu soubesse
quando irá parar de doer.
Quando irá parar de doer?

Seria mais fácil se os momentos de alegria
não fossem mera exaustão da tristeza.
Não (o) seria?

Seria tão mais fácil se eu não precisasse te ferir
para lidar com minha dor;
te culpar, para me culpar menos.

Seria tão mais fácil se meu amor não fosse inflamado.
Seria mais fácil se eu não me odiasse tanto
a ponto de odiar quem eu mais amo.

Se você não tivesse se/me/nos feito mal
repetidas vezes, insuportáveis vezes.
Seria mais fácil se meu coração não estivesse destroçado.

Seria mais fácil se, ao olhar para você,
eu não lembrasse instantaneamente
do que mais quero esquecer.

Seria mais fácil se eu não tivesse visto dias
em que o culpado era apenas eu,
quando você era meu herói.

Seria mais fácil então não ter memórias
ou é a experiência narrada
que não me deixa partir?

Seria mais fácil se eu aceitasse a vida
com seus devaneios, sua ironia,
suas piadas de mau gosto.

Seria mais fácil se eu enxergasse o tanto que tenho,
a sorte que tenho.
Seria fácil demais.

Seria justo demais
se houvesse justiça;
mas seria lindo talvez.

O que seria afinal de nós dois,
se tudo estivesse no lugar.
Se cada pílula a mais não fosse um dia a menos.

Se tudo estivesse no lugar,
eu estaria aqui?
Você estaria aqui?

A nossa vida se tornou a busca do perdão
e seria mais fácil se essa cessasse
de um jeito ou de outro.

Seria mais fácil se eu tivesse escolha?
Ou se você tivesse escolha?
Mas a escolha que tinha você já fez; e eu, a minha também.

Seria mais fácil então não querer facilidade,
não querer felicidade,
não querer continuar.

Seria mais fácil poder voltar no tempo
e mudar alguma coisa, qualquer coisa,
que fizesse amenizar a dor.

Seria mais fácil ser mais egoísta,
ou menos egoísta.
Seria mais fácil aproveitar.

Seria fácil dizer que, se tivesse a chance,
jamais teria apertado aquele botão.
Mas isso seria o mais difícil.

Porque você é quem você é;
por isso, foi fácil demais
me apaixonar.

Seria mais fácil? Talvez.
Mas essa pergunta já não tem lugar;
e isso é o mais difícil.

Seria mais fácil
e desolador;
e isso é o mais difícil.

Finalmente, seria mais fácil se soubesse encerrar este escrito,
se tivesse alguma frase de efeito, ou mesmo uma moral.
Não tenho nada.

Seria mais fácil se, de algum modo, soubesse o que será de nós.
Não sei, e parte de meu temor talvez seja esse.
Seria fácil pensar que tudo é apenas poesia.

Seria fácil; e lindo demais.