quarta-feira, 29 de junho de 2011

O grande golpe

Enquanto cresci, imaginei que certos eventos só aconteceriam mais para o final de minha vida. Que só os testemunharia quando talvez já não influenciassem tanto os meus caminhos. O casamento entre dois homens era um deles. Os acontecimentos dos últimos dias mostraram que eu estava errado.
Por um lado, os novos rumos trazem um ar de esperança. Como se fosse possível finalmente planejar coisas que antes eram apenas sonhadas: ter uma família, por exemplo. Não que família seja apenas um fenômeno jurídico, ou mesmo que seja boa por si só. Mas apenas tornou-se algo um pouco mais próximo, um pouco mais possível, ainda que ponderável.
Por outro lado, vejo que as mudanças ainda não são substanciais, ou se o são, estarão sempre a acontecer. Haverá sempre algo a ser reinvidicado, um plano a ser traçado, uma nova etapa a cumprir. Não que isso seja ruim, mas apenas nada extraordinário.
No fundo, eu sinto apenas um grande golpe. O escudo social que eu me dera foi finalmente arrancado de minhas mãos. Se antes tinha o Estado para culpar por minha eterna falha em construir família, agora já não o posso mais usar. Como um tapa na cara, está a me dizer que mais difícil do que esse imenso católico-protestante reconhecer a possibilidade de eu construir um lar sou eu, de fato, fazê-lo. Agora são meus sentimentos egoístas, meu temperamento destemperado, meu persistente impaciência, meus traumas e dramas e nóias que fazem com que eu seja sozinho: agora a culpa é minha.
Então, eu pego a me perguntar: qual será minha próxima desculpa? E volto a me questionar: do que afinal estou a me defender? Tudo parece tão fácil, e tão frágil, e tão sem sentido. E assim tenho a certeza de que meu mundo é assim. O grande golpe, por certo, é aquele que insisto em aplicar em mim.


domingo, 12 de junho de 2011

My Heart Fully

I did love greatly

I loved you in so many ways

and I loved you despite the fact

you always pretended I did not.

you broke your spirit and so I see

there’s guilty and guilty and no guilty

what is there in for me

and I may appear to be holding on completely

I never felt this is what I do best.

I regret deeply all the perfect moments

I regret them greatly and not at all

because I live for them now

as I did before

you conjure up pictures of you and so I feel

they are the ones you revealed

because you don’t seem to care

and you seem to truly care

and I am not the target to be hit

I did love someone fully

standing here both feet off ground

and I gave my heart hoping

and not hoping, because I gave it all

quinta-feira, 9 de junho de 2011

a second glance (II)

When you were in my life
I didn't actually think
how it'd be without you.

Or maybe I did.

Maybe I was too afraid
wanting to spare myself
completely...
as you hardly spared me
a second glance.

I kept on all the same;
you did not.

And when you were gone
I was not.
I wasn't anything at all.

I died for a while.
A life long one.

I thought I'd always remember you fondly
and I do.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

O beijo

Quando eu saí de casa aquele dia, pensei que seria apenas isso: mais um dia. Pensei que encontraria mais uma pessoa, com quem passaria mais uma noite apenas a conversar. Minha vida tem sido assim no último ano: uma série de distrações sucessivas na tentativa desesperada de me convencer de que é possível interesar-me por um outro alguém.

Você seria mais um da série. Você tem muitas qualidades, é verdade... não é por acaso que insisti em chamá-lo para sair. No momento em que você entrou no carro, percebi meu erro. O cigarro já não era mais um problema, seu rosto tornou-se belo, e eu senti fielmente de que havia chegado a hora.

Mas, agora que o dia já é outro, e está claro que nossa noite juntos foi apenas isso (uma noite), eu me pergunto sobre o que quis para mim. E sinto um certo desespero. Porque talvez eu só tenha me entregado porque sabia de sua futura não correspondência. Por vezes, creio ser essa uma lógica meio mística e sem muito fundamento, mais uma maneira torpe de eu me fazer remoer, como se a vida fosse sempre aleatória e meu afeto pudesse recair sobre qualquer um.

Neste momento, por outro lado, não acredito ser esse o caso. Talvez você tenha sido mais uma evidência de minha mania auto-destrutiva de gostar de quem não se interessa por mim. Eu poderia dizer que tentarei dissecar meus sentimentos, seja por análise ou mera divagação. Mas não seria justo de minha parte dizer isso para mim mesmo. Pois eu provavelmente nunca saberei por que me levo a não me amar desse jeito.




domingo, 5 de junho de 2011

Corrida ao Ouro

O Espírito Santo é pensado, há muito, como um pedaço do Brasil que não deu certo. Dentre os muitos exemplos que mostram essa visão, posso citar a disseminação da conhecida expressão barreira verde, que caracterizava as terras capixabas como um grande pedaço de mata que dificultava o escoamento do ouro das minas gerais. De modo semelhante, no Império, o Espiríto Santo era visto como mais uma das pequenas províncias, sem força política atuante na Corte vizinha. Durante os 67 anos de nossa experiência monárquica, nenhum dos Senadores eleitos para representá-lo nasceu em terras capixabas; muitos deles jamais colocaram o pé aqui. Para a cúpula do Governo, o Espírito Santo era mais um burgo podre.

Essa é uma visão construída, em grande escala, por uma forma particular de se produzir conhecimento: observar apenas os resultados. Nesse sentido, é interessante retornar a um período anterior à construção dessa visão, um momento em que o projeto Espírito Santo ainda não era considerado fracassado: os primeiros dois séculos da Colônia.

O Brasil nasceu como um investimento português. Em termos econômicos, o Espiríto Santo, de fato, não deu os retornos esperados por Lisboa. Contudo, antes da descoberta do ouro em terras brasileiras, essa era a realidade de todas as quinze capitanias. Os olhos do Reino estavam voltados com muito mais intensidade para suas possessões no Oriente, de onde provinham os grandes lucros. Somente quando a Espanha encontrou ouro na América, os portugueses voltaram sua atenção para o Brasil, na esperança de que fizessem semelhante descoberta: a corrida ao ouro iniciara.

A busca pelo ouro foi um investimento de alto risco. Fosse por conta da mata, dos índios ou das doenças, adentrar o interior do Brasil à procura de uma mina só foi uma opção porque a efetiva descoberta do ouro compensaria todos os riscos. Afinal, nos primeiros séculos da era moderna, o ouro era a petrificação da riqueza. É muito comum atualmente a ideia de que essa aventura pelo interior do Brasil foi conduzida somente - ou principalmente - pelos paulistas. Isso acontece porque temos de hábito de escrever história olhando apenas para os vencedores. A verdade é que donatários de muitas capitanias investiram pesado nessa aventura em busca do ouro. No Espírito Santo, não foi diferente. Muitos foram os homens e recursos que percorreram o seu interior em busca da pedra, em inúmeras tentativas sucessivas e mal-sucedidas. Muitos esquecem que a corrida ao ouro foi, antes de tudo, uma corrida: ganhou quem chegou em primeiro lugar. Isso não significa, contudo, que os outros não empreenderam igual ou mesmo maior esforço. A vitória alheia não lhes tira esse mérito.








quinta-feira, 2 de junho de 2011

assédio suicídio

eu me lembro da vez que deixei você para trás

eu tinha água nos olhos e você

me tinha nos seus



e me lembro das suas velhas desculpas

e como elas voltaram para mim de uma vez

sem eu querer



como foi triste imaginar que aquela seria

a última vez que testemunharia a sua crença

a última vez que sofreria com esperança por você



e quando penso que você foi o meu único amor

e único contra qual não virei a cara

quando deveria acertar na cara



e você dizia que o amor passava

e eu dizia que você nunca me amou

pois amor para mim nunca morre



e mesmo ouvindo que depois iria me procurar

eu sabia da solidão intensa sem escapatória

e sabia das noites em claro

e descobri que minha única chance

fora jogada fora



então não estranhe se eu parecer estranho

não estranhe se eu não mais agir como antes

desta vez não irei voltar

e não voltarei minha cara

mais a você



porque eu te amo demais para olhar para você agora

eu te amo demais para olhar para você de novo

(Vila Velha, 2000)

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Hope

I hope that you are having a good time
that it is all a blast
that you got that feeling that says
"now I am finally living".

Hopefully, that's how it is.

You see... I wouldn't want my pain
to be worthless
as you inflict it (or I inflict it)
the world became a better place

So I sense you are trying to reach it
to make some sort of sense out of it
I keep on nagging or flaunting myself
searching for righteousness
I will most certainly not find
and you keep on changing and changing
I wonder when change will be of heart

You see... I wouldn't want you
to feel an urge to win
as I'm losing it more and more
each day
and if you really forgot about me
I'm in no place to tell you so
but I am telling you so

So...

You are not your failing dreams
will they turn sour I do not know
Some would say you got to cherish them
and some will dream long and hard
about it all.