quinta-feira, 18 de abril de 2013

O parto

Fiquei surpreso; talvez nem tanto quanto imaginaria; talvez apenas sem reação, ou alguma com sentido. Eu sei que não é perfeito - apesar de, por tantas vezes, ter-lhe dito o contrário -, mas é estranho vê-lo humano. Vê-lo como não esperaríamos de nosso grande amor. 
Há alguns dias descrevi minha impressão de que não havia mudado. Hoje, mais um indício nesse sentido. Quase repetimos nosso primeiro modo de fazer amor. Ao menos, de minha parte... porque o amei desde o primeiro oi que me escreveu; da primeira imagem que vi; logo que percebi que havia você no mundo.
Então como explicar a rejeição - ou a ausência de impulso enigmático - que senti hoje? Como explicar que queria ver a Fabio e não a você? Talvez foi medo... ou cálculo... ou pena de mim mesmo. Porque orgulho certamente não foi. Então não mandei mensagens; não fingi personagem; e não imaginei um mundo em que não morri.
E, provavelmente no futuro, farei como fez, e não mudarei. Não me tornarei uma pessoa melhor; não terei o casamento perfeito; não consertarei os erros que cometi; e não serei feliz. Não viverei no presente um amor do passado, mas tampouco o passarei. 


quinta-feira, 11 de abril de 2013

Apenas mais um.

Os rituais podem doer. A família em volta da mesa a fazer uma prece. Porque parece fazer sentido. Porque sempre foi assim.
Talvez me sinta isolado no mundo quando os rituais me chamam. Talvez sinta raiva de querer mais do que o mundo pode me dar. Ou quem sabe seja pena do que não posso ter; a mesmice; o lugar comum.
Quem afinal tem medo de morrer? São poucas as pessoas que mencionam seus sentimentos. Não desejam pensar... e repetem que a vida é uma passagem. Às vezes penso que sabem que não é. Às vezes acredito em sua inocência. E às vezes acredito na minha; a mesmice; o lugar comum.
Um dia estava observando a carinha de Fulana; reparei nos detalhes de seu rosto; na beleza dos seus olhos. E chorei ao pensar que um dia já fomos um. Que carrega em seu corpo uma grande pedaço de minha história. E nada mais importa.

Vivo no mundo dos idiotas... sou apenas mais um.

segunda-feira, 8 de abril de 2013


As vezes que te vi depois que nos separamos me tocaram de forma diferente. Você deve ter percebido isso. Na primeira, chorava incessantemente; na segunda, permaneci quase mudo; e nas últimas consegui fingi certa compostura. Você não pareceu - mesmo que de relance - ter mudado muito. Provavelmente não o fez. Provavelmente ainda detem muito daquele garoto de 18 anos que conheci na primavera de 2008.
São alguns os pontos que me ligam a esse passado, são como nós que não me deixam desmanchar... ou  mover muito. Por isso, é difícil classificá-los em bons ou ruins (embora fazê-lo seja grande parte de meus passatempos). Um deles era o ar de mistério que mantinha, como se guardasse algum segredo com o qual não saberia lidar, ou que não poderia entender. Talvez tenha sido essa a maior inspiração para o livro (o qual até hoje não sei se leu, porque sobre ele nunca comentou). Mas sabe... eu não acho que havia segredo nenhum, ou, no máximo, tratava-se um segredo inventado.
Isso não é necessariamente ruim. Também não creio que tenha sido algo intencional. As minhas reações certamente não são o melhor termômetro.
Mas dizem alguma coisa. Você se lembra de quando falei que haveria um preço? Que sua decisão de partir implicaria algo? Você possivelmente soube - ou já sabe - do que falava. Chorei, parmaneci calado, fingi compostura. Finalmente, jamais o  (a)paguei.  

domingo, 7 de abril de 2013

Estado Laico

Volta e meia, ouço ou leio a afirmação de que o Estado brasileiro é laico e não ateu [normalmente, claro, dita por um teísta]. A frase em si é bastante significativa [e, para mim, bastante entristecedora]; não exatamente pelo seu conteúdo, mas pelo que revela de seus interloculores [ou seja, a maioria esmagodora dos brasileiros, já que tal colocação só poderia ganhar a boca do povo em um Estado teísta, onde se encontram crucifixos nas paredes de tribunais e casas legislativas, canções gospeis nas sessões públicas, Deus na Constituição, argumentos religiosos nas fundamentações judiciais, feriados católicos, para mencionar apenas indícios externos].

O que afinal significa dizer que o Brasil é laico, mas não ateu? Quem o diz, justifica-o completando que aqui ninguém é obrigado a não acreditar em deus. A laicidade traduziria assim a liberdade de crença, inaugurada no Brasil pela corrente positivista que arquitetou a chegada da República. Apesar de alguns pontos controvérsos, poderíamos até afirmar que, ao menos formalmente, o Brasil adote, minimamente, tal opção política [meus pêsames nesta hora ao seguidores do candomblé e da umbanda].

É importante lembrar, entretanto, que o termo laico possui n acepções, principalmente quando analisado historiacamente. No mundo helênico, por exemplo, a laicidade traduzia a ideia de que certas normas não tinha origem divina, mas nasciam de acordos entre os homens. Nesse contexto, a laicidade pode ser associada ao juspositivismo [embora nem todo direito natural tenha como base a religião]. Adicionalmente, o Estado laico também pode ser compreendido como leigo ou secular, ou seja, separado da Igreja.

É nessa terceira acepção que gostaria de me concentrar, especialmente porque é aquela que grande parte das pessoas atribuem ao termo. Mas, antes de fazê-lo, é preciso retornar ao outro combatente da frase inicial: o ateísmo. Embora utilizado comumente em paralelo à religião, o ateísmo dela bastante difere [além de seu conteúdo, obviamente] na medida em que possui base ontológica completamente diversa: enquanto as religiões baseiam-se na crença, o ateísmo caracteríza-se pela descrença. O objeto deus ocupa no ateísmo posição meramente político-social, já que sua influência está diretamente ligada às pessoas que o usam como argumento no discurso. Para religiosos, por outro lado, deus não é somente objeto político ou social, mas entidade per se e razão de ser do homem.

Tomando por base o parágrafo anterior, a afirmação de que o Estado brasileiro é laico e não ateu perde totalmente o sentido, já que para o ateu (assim como para o Estado separado da Igreja) deus não faz parte de sua base de sustentação. Nesse Estado laico (ou ateu), a religião não desempenharia papel, já que deveria ser reservada à esfera privada. Dessa forma, pode-se afirmar que o Brasil é um Estado religioso, o que reflete com muito mais lealdade a opinião dos interlocutores da afirmação contraditória, com a qual tenho que concordar. 




sexta-feira, 5 de abril de 2013

Reflexo

Por vezes ouvi sobre a busca da essência;
das pessoas que acreditam num mundo platão
e na plenitude da vida ao encontrá-lo.

Como se houvesse um certo e um errado;
ou o bom e o malvado;
ou, ao menos, o querido.

Que tarefa difícil:
procurar no espelho os defeitos
que seu falso eu deixou!
Conseguiria afinal distinguir
da imagem que entristece
aquela que realmente não sou?

Não o creio.
Tudo não passa de medo...
de aceitar a feiura,
ou mesmo de querer
sua objetividade.

Então olho no espelho agora
e não tentarei reconhecer a face
que gostaria de ter.
Tampouco a desejarei.

Não se trata de haver...
(verbo impessoal)
esse rosto.
Trata-se de haver
(verbo impessoal!!!)
essa inquietação...