segunda-feira, 14 de novembro de 2016

André

André é uma etapa nova
um jeito novo

entrou em minha vida
como nunca ninguém antes
e me fez melhor

mas ele não sabia
não conhecia

era Alexandre quem mudava

o que lhe era muito
foi-lhe pouco
fez-lhe pouco

ele precisa de mais
ele merece mais

André me disse
que pensou em amar de novo
depois de decidir abandoná-lo

Eu lhe disse
que pensei em ser feliz de novo
depois de decidir abandoná-lo

Amor polivalente porém
felicidade também

Não desejava relação de outrora
justo aquela que André queria
provar pela primeira vez

Então André entrou em minha vida
e ficou
mesmo que já não volte mais

porque algumas coisas ainda são
como sempre o foram

Amor polivalente eterno
felicidade de quem?


domingo, 23 de outubro de 2016

Raro

Não há uma palavra. Não há forma de colocá-lo em uma frase. Ainda assim, é o que se pode tentar. É o que se necessita tentar. Eu, ao menos. 

Li a mensagem de que estava na portaria. Eu estava na portaria. Então virei o rosto e vi ali em pé. Me olhou com uma expressão, como se eu fizera algo equivocado, que me comunicara mal. Eu me comunicara mal. Porque ele estava ali em pé, ao lado de alguém que eu conhecera. Tanto tempo fa.

Você me contou antes. Mas não era ele. Você me contou antes. E eu disse que estava tudo bem. Estava tudo bem, menos perder você. Como se o que tínhamos fosse algo raro. Foi raro, até que já não foi mais.

Então não foi o engano que construí nesta noite. Não foi o haver ou não haver. Talvez nem mesmo o imaginar haver ou não haver. Foi o não ser mais raro. Foi ver o laço se dissolver ali, enquanto testemunhava não apenas a dor que traíra, mas a desilusão de achar que seria possível. 

Não é isso, eu sei. Não há uma palavra. Não há forma de colocá-lo em uma frase. Ainda assim, é o que se pode tentar. É o que se necessita tentar. Eu, ao menos. 


quinta-feira, 2 de junho de 2016

ya pasó

ya pasó. le dije lo que debería. y me lo hice tal cual. ya no como solía serlo. y aun así, igual.

igual no lo cambiaría. no hay nada, lo ves...
                                           no hay nada que podría haber hecho. lo mismo.

así que no haya más. me lo olvidé. se me fue todo. se me cayó.

lo tan real que me parecía y ahora.

bueno. ahora ya pasó.


domingo, 1 de maio de 2016

Sim

Eu diria sim. Quando chegasse ao meu lado e fizesse a pergunta, eu diria sim. Ainda que não acreditasse piamente. Ainda que tivesse todas as dúvidas. Eu diria sim. 

Não foi surpresa. Quando eles chegaram e o vi pelo vidro da porta, não havia nada mais o que fazer: eu já era seu. Foi surpresa. Porque não esperava que aquele menino franzino virasse esse homem. Esse rapaz que me faria sonhar novamente.

Então os dois entraram e eu me perdi outra vez. Eu não teria combinado nada, não teria desejado nada, se soubesse que iria me apaixonar. E me meter nesse enrolo - que foi bom, foi bom: um sofrimento prazeroso. Fingir que era Alexandre e seus dois maridos, ainda que a um só de verdade amasse. Ou os amasse de formas distintas. Porque tinha um por conta do outro.

Eu sabia que não duraria. Mas tampouco sabia que o fim estava tão próximo. Eu achei que eu poderia conquistar algo. Que algo nele se transformaria, se moldaria, para que ali eu pudesse permanecer por algum momento. Não muito longo. Não tão à vontade. Mas que aceitasse um pouco de meu coração.

Eu deveria dizer sim. Eu deveria aceitar o punhado do [quase] amor que ele me ofertara. A possibilidade de tê-lo ao meu lado. De ter alguém que eu desejo tanto. Por quem eu faria tanta coisa - quanta coisa? E pensei a respeito. Pensei em arriscar um passo mais. Mesmo sabendo, ou não sabendo, do fim que me aguardava. 

Então lhe perguntei. [Fingi que] abri meu peito e desnudo em sua frente, disse o que não podia mais conter. E pedi que não fosse apenas até onde a camisa impusesse limite. Pedi que, mesmo não sendo meu lugar, ele me dissesse que sim. Mas ele disse que não. Ele disse não, mas eu.... eu diria sim.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Sobre o desejo

Fechei a porta e subi as escadas de volta ao apartamento. Eram pouco mais de meia-noite. Uma hora talvez estivemos aqui. As roupas, ainda jogadas no chão da sala. Comecei a recorrer a blusa, a bermuda, mas decidi usá-las como pano para limpar o chão. Tirei também os lençóis da cama, a fronha suja. Juntei tudo e coloquei na máquina de lavar. Nada poderia ficar como registro. Nada poderia me lembrar que por mais uma vez eu tentara. 

Não consegui dormir muito naquela noite. Vinham-me flashes do que sucedera. E flashes do que a que me remetiam.  E tudo se misturava, assim como o que sentia. Porque a máquina se esforçava para remover aquilo que eu não queria que fosse. Não queria que fosse assim. Minha mente se esforçava para me convencer que nada já passou. Realmente passou.

No dia seguinte, encontrei suas fotos; seu diário. Aquele sorriso tão doce, tão inocente. O amor que transbordava do seu rosto ao brincar com sua prole. O pai herói. Poderia ser uma performance, como de tantos outros, que constroem uma vida fictícia para exibição. Algo, entretanto, tinha que ser verdade. Porque havia um ser humano ali que, de alguma forma, se conectava com quem me engolira na noite anterior. 

Desejei então intensamente fazer parte daquele mundo. Porque mesmo o casamento desfeito, em meio de brigas, também já fora um história bonita. Os dois jovens que se casaram quando o ano voltou a esquentar. Revolucionários, sonhavam em mudar o mundo. Apaixonados, prometeram amor eterno. Isso, nada pode apagar.

Por que tive medo então? Se sabia que ali dentro, em algum lugar, existia amor. Eu poderia apostar nele. Eu poderia ter esperança.

Ao invés disso, eu joguei a velha carta. 



quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Sobre o amor

Quando cheguei, ele estava sentado na entrada de uma loja, na esquina entre as duas ruas, onde havíamos combinado de nos encontrar. Me viu e logo se levantou. No mesmo instante, minhas pernas começaram a tremer; podia sentir as palavras saindo já embaralhadas de minha boca. Para evitá-lo, fui dar um beijo de cumprimento. Ele me deteve. Fiquei paralisado por alguns segundos, tentando entender o que aquilo significava. Ou simplesmente fiquei paralisado. Eu não esperava. Eu não esperava ele que fosse o rapaz da foto e, ainda que o fosse, que não tivesse o quê... um e noventa. Talvez mais. Me senti tão pequeno. Tão invisível. Aquele homem alto, forte, bonito. No meio da noite escura com um rapaz assim... Não feio, mas nada que chamasse muito a atenção. Certamente, não pelo corpo. E talvez nem mesmo pelo rosto. Um cara normal. Tão distante dessas pessoas lindas, esculpidas. Essas pessoas que parecem poder ter tudo e todos que querem. Por isso, podia ver a imagem de ele indo embora, dando uma desculpa qualquer para justificar a interrupção repentina. Mas ele não foi.

- Você toma cerveja? Sim. Mas não tenho em casa. Creio que há algum lugar aberto. Mas, ali, na rua principal. Onde há luz. Onde transitam pessoas. Eu tentava manter o passo firme. Não falar muito. Não me relaxar. Era preciso ser rígido, porque ele não podia perceber que eu era uma bicha dessas que a gente já identifica logo de cara. Dessas que até falam grosso, mas que quando riem são claramente bichas. Eu tinha que ficar firme. 

- Eu percebi que você não era daqui. Brasileiro, é? A loja estava perto. Mas continuávamos na rua escura, em que não passava ninguém. - Quer ir para a Dezoito? Acho que a loja é por aqui. Viramos o cruzamento e atravessamos o sinal. Eu queria olhar. A vergonha não me deixava. Não tinha esse direito. - Eu não trouxe minha carteira. Tudo bem. De fato, eu estava sem a carteira. Tive medo de que fosse um assaltante, por isso deixei tudo em casa. E mesmo assim escondido. Apenas uma nota de mil mais acessível. É tudo que tenho, poderia falar e talvez ele fosse embora sem levar mais coisas, sem me machucar. Porque alguém como o da foto não iria querer me encontrar. Não iria querer vir à minha casa no meio de uma noite vazia. Alguém assim poderia ter qualquer um. Tinha que ser outra pessoa. Ou, mesmo que não, que quisesse algo de mim que não havia explicitado. Objetos pessoais, dinheiro, ou me fazer mal. 

Em poucos minutos, já estávamos na porta do prédio. Eu peguei a chave, abri a porta e deixei ele entrar primeiro. - Segundo andar. Ele, porém, não começou a subir: esperou que eu fosse na frente. Apertei o interruptor da luz e caminhei em direção à escada. Um, dois, quatro, tantos degraus. Quantos degraus? Era como se eu contasse um por um, mas perdesse a conta a cada passo; até chegar à porta. - Pode passar. Ele entrou e eu fui para o quarto procurar a carteira, pegar os cem pesos que custou a cerveja. Já não importava mais. Ou já não temia mais.

- Não precisa. Tem certeza? Certeza. Você se importa se eu fumar um? Fico muito nervoso. Não, tudo bem. Sabe... a última vez que fiz isso já tem dois anos.. talvez um pouco mais. Não costumo sair com caras. Eu gosto de mulher, na verdade. É que de vez em quando dá vontade de sair com cara. Mas é difícil encontrar algum que me atraía. Com mulher, é muito mais fácil. Gosto de todas. Mas homem não. Então tem uns dois anos acho. O último cara era um pirralho. A gente não fez muita coisa. Saímos uma três vezes. O pau dele era muito, muito grande. Então não deu para... você sabe. Não tinha como. Vou abrir a cerveja. Não, não, pode deixar que eu abro.

Já não sabia o que estava fazendo. Minha mão tremia enquanto deixava a cerveja cair no copo. Levantei mais a garrafa para fazer um pouco de espuma. Enquanto isso, ele estava sentado, fumando o cigarro de maconha que acabara de enrolar. Peguei os dois copos, dei um para ele e me sentei também. O que você faz? Estuda? Está aqui estudando, né? Sim, cheguei tem uns sete meses. Vou embora em junho. Um ano. E você? O que faz? Sou médico. Mas queria fazer outra coisa, sabe? Se eu pudesse, voltaria a estudar e faria outra coisa. E tenho um filho. Te falei que eu tenho um filho? E esposa. Mas eles estão viajando. Por isso que pude sair. 

As palavras, entretanto, logo se acabaram. Ficamos sentados, cada um de lado. Ele ocupava todo o espaço do sala, e eu ali, tão pequeno, parecia que iria desaparecer entre as almofadas. Parecia que iria sumir de minha própria casa, porque já não havia espaço nenhum. E o silêncio tão curto se alongava: o cigarro havia acabado, a bebida já quase também. Não havia mais o que dizer. Respirei fundo e tentei me transformar em alguém que já fui. Ou em alguém que nunca fui. Sentei mais perto, bem mais perto, e coloquei minha mão em cima de sua perna.

- Olha, eu não beijo. Tudo bem? E pôs a mão sobre minha bermuda. Sobre meu pênis. E começou a acariciar. Abri o zíper, ou ele abriu o zíper. Não estava ereto. Mesmo assim, ele começou a chupar. Ele me chupava, e eu tentava ver seu corpo, tentava tocá-lo. Passava as mãos por suas costas. E comecei a deslizá-las em direção a sua bunda. Ele levou um pouco. Ergueu-se um pouco do assento para que meus dedos alcançassem mais fácil. Então o puxei e ele se sentou do outro lado. Segurei as suas pernas para cima e me inclinei para lambê-lo. 

Minhas mãos ainda estavam trêmulas. Há tanto tempo eu queria estar com alguém que desejasse tanto. Que desejasse mais do que pudesse comparar. E ele estava ali. Mas não podia beijá-lo, não podia fazer carinho. Me sentia na permissão de no máximo tocar seus órgãos genitais. Nada mais que isso. Ele não estava ali. Eu não estava ali. Ele voltou a chupar meu pênis flácido. Eu, sentado, e ele, de joelho no chão. Um homem forte, alto e tão bonito. Eu o queria tanto. Queria olhar para seu rosto e acariciar suas mãos. E talvez até quisesse que ele chupasse meu pau e que eu gozasse em sua boca. Mas nem isso podia. Eu não tinha nada, apesar de ter tudo.

Depois que gozou, ele foi tomar banho. Eu fui depois. Voltei para sala, e ele estava sentado, de bermuda. - Podemos nos ver outra vez, se você quiser. Me escreva. Pode ser que eu demore a responder, porque sou casado, tenho um filho, te falei, né? Sou bastante ocupado. Mas a gente se fala. Calçou o tênis e eu fui vestir uma roupa para acompanhá-lo até embaixo. - Então a gente se fala. E me inclinei para dar um beijo em seu rosto. Ele rapidamente fez um movimento para trás e me estendeu a mão. - Boa noite, foi um prazer te conhecer.