domingo, 28 de agosto de 2011

Promessas

Se toma um dia a mais de vida
menos um dia a mais de vida
menos um dia de vida.

E o que importa se os relógios não param
ou, se param, continuam a funcionar.

Há segundos que contam; outros que rodam;
há segundos de que faço ínterins longuíssimos e,
de repente, o ponteiro volta a voltar.

Eis então que lembro de você;
e o tempo já não é tempo;
e a espera do momento
vira uma longa pausa
a espreitar.

E tomo um dia a mais de vida;
longa vida de promessas. E tão curta.
Menos um dia de uma longa vida;
e o ponteiro volta a rodar.


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A cidade

Às vezes sinto que a qualquer instante minha vida irá começar.

Vejo imagens como relances futuros; tenho esperança de finalmente chegar.

Engraçada essa palavra: esperança; tão bondosa e tão cruel.

Pois é ela que me liga a um passado destruído,
mas também evita que eu arranque dias que virão.

É bom pensar que esses são apenas momentos difíceis.

Veja... é logo ali. Como a imagem de uma cidade pela janela do avião.

Esta manhã sobrevoei a sua famigerada casa, de onde você me expulsou. As pessoas pareciam tão distantes, tão pequenas. Mas ao lembrar que debaixo de algum daqueles telhados, você estava a respirar, perdi o ar e morri um grande pedaço. Como alguém tão pequeno pôde me esmagar tão gigantemente?

Esta tarde, contudo, esbarrei com um retrato seu. Olhei nos seus olhos e vi uma vida que não quero para mim. Senti toda dor reflexa que corrói o seu peito agora e finalmente entendi por que alguém tão grande é uma merda tão pequena.

Naquele instante, eu vivi um grande pedaço. E a minha vida jamais parou.




terça-feira, 23 de agosto de 2011

O momento

Um dia acordei e olhei-me no espelho:
já não era o mesmo.
Senti que o momento chegará.

Mas o momento ainda não chegou.

Eu já não era mais criança
e coloquei-me a pensar:
quando afinal fui uma?

Um dia encontrei amores
que jamais saíram do papel.
E amei as dores
que nunca cheguei a sentir.

O momento definitivamente não chegou.

Um dia acordei e o céu já não estava cinza,
mas também já não estava azul.
Percebi que aquele era apenas mais um dia.
O momento - este momento - ainda não chegara.

Foi nesse o dia então
que finalmente me apaixonei;
e ele era perfeito.
Mas o amor assim mesmo me escapara
então pensei:
o momento não era ainda.

Quando recordo
desses encontros que nunca vivi
dessa saudade de quem nunca esteve comigo
penso que talvez esteja sozinho no mundo
ou que o momento não é agora.

Então por que ele me beijou
e tivemos o perfeito amor
mesmo se esse amor
de fato nunca existiu?

É porque o momento não é agora.

Finalmente percebo meu erro.

O momento é a todo ele;
e o amor sempre existiu.







quinta-feira, 18 de agosto de 2011

not so shrewd moves

Chances are we will meet again some day
and as I wave, you might not turn your face
for you will not know (or will do so)
my heart still aches from the thought of you.

Chances are I will dream of you tonight
and I will cry as my eyes open
Or will I die from the exhaustion
that overcomes me every waking hour?

You may ask me why that is
and I'd have an explanation
for my not so shrewd moves
as far-fetched as it sounds
as so silly it may seems

I love you.





segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O presente será passado

Volta e meia quando o dia amanhece,
eu lembro de noites que não voltam mais.
E os dias passados tão belos
ou não tão belos... o presente ofuscou.

Se penso em ciclos é porque preciso
sem amor o alimento tão seco
passeio por páginas que não quero tocar.

Mas logo eu também abandonarei esse lar
que você há tanto já o descobrira mau.
Sonho com esse dia em que deixarei para trás
as memórias em caixas, e suas fotos
não mais em um móvel da sala.

Mas o seu sorriso, como abandonar?

Então eu ouço uma risada
parece vir de um lugar distante
e tão perto.
É você... rindo de meu amor eterno
com seu novo amor a me olhar
e dizer... nada já passou.

E quando o dia chegar
que eu olhar sem mágoa
talvez você não entenda por que
eu não mais terei as páginas
de um belo feio livro
que eu possa passar.

Eu me acostumei a trocar de amor...

E as noites que não voltam mais
não serão mais noites.
Os dias tão belos passados
serão apenas dias.

O presente será passado e o futuro será só meu.


domingo, 7 de agosto de 2011

Símbolos, signos e sinais

Se eu persistisse os signos
talvez estivesse a sinalizar
o que as palavras não dizem
ou talvez mesmo perdesse
a chance de prosperar

Mas o tempo agora
é de novos tempos
e os mesmos dias
são novos símbolos
de velhos remendos

Porque eu apenas finjo
e as promessas ficam
e o sinal que eu digo
é o de ninguém
novamente

Então se eu persistisse no caminho
talvez encontrasse o vento
talvez reinterpretasse
e o significado
seria senão o mesmo.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Mudança da Capital

Estou convencido de que a mudança da Capital da Província é uma necessidade inadiável, não só pelo futuro desenvolvimento desta Provincia, como pelas condições higiênicas que deve ter toda Cidade destinada a ser o centro de uma aglomeração de população mais ou menos numerosa.
Com a prosperidade que as duas estradas de ferro projetadas, os engenhos centrais e a navegação direta trarão infalivelmente a esta rica parte do Império, a Cidade da Vitória, situada na encosta de uma montanha, apertada pelo mar em uma estreita língua de terra, despida de condições que possam oferecer o confortável a sua população e os melhoramentos materiais que são a base de todo o progresso intelectual e moral, como nos ensina a sã filosofia, a Cidade da Vitória não mais poderá continuar a ser a Capital da Província sem uma grave aberração, filha ou de interesses pouco confessáveis, ou de um receio vago e chimérico de avultadas despezas, que não comportariam a fortuna pública e a particular.
A essa importante e decisiva consideração, acresce que muito brevemente, 0 segundo o parecer dos entendidos, a água há de faltar para o abastecimento da população principalmente na estação calmosa, ou pelo menos se há de reduzir irreparavelmente a quantidade suficiente para o consumo de uma população ligeiramente aumentada.
Faltando a água, esse elemento da vida, tudo falta e a necessidade há de obrigar mais tarde, com despezas acrescidas e males maiores, a fazer precipitadamente aquilo que não so quis fazer em tempo.
Devo expender uma opinião sobre o local mais apropriado a edificação da nova cidade que no futuro será a centro moral , intelectual e industrial da população Espírito Santense.
Sou avesso as ideia de colocar a nova metrópole na Vila do Espírito Santo* ou em outro qualquer ponto do vasto estuário, doca natural de que é dotada esta zona da Província.
Além de não existir nas proximidades da Vitória e dentro do porto lugar apropriado à sólida construção de uma grande cidade, e da falta d'àgua, impossibilitam a adoção de semelhante medida, ela viria matar a Cidade de Vitória, o que seria em todo caso um mal grande; além de ferir graves interesses.
Parece-me que o exemplo do Paraná e sobretudo da grande e próspera Província, cujo digno filho e representante V. Ex. é, oferece uma solução decisiva a esta questão vital.
A futura Capital do Espírito Santo deve ser colocada em um ponto central da província, em um lugar que mais apropriado for, comunicando-se por meio de via férrea com 0 porto da Vitória, que será sempre o entreporto do comércio de toda a Província.
Esta cidade nada perderá, se se retirar dela o mundo oficial; as forças de um comércio rico e poderoso erguer-la-ão em pouco tempo do abatimento em que tiver caído. Santos e Paranaguá o demonstram.
A colocação da Capital no centro ativará o desenvolvimento da província e regularisará melhor a circulação das ideias e dos predutos.
É a minha opinião, que o futuro se encarregará de aprovar ou reprovar.

(Trecho do relatório apresentado pelo administrador da província do Espírito Santo, Martim Francisco Ribeiro Inglez Souza, à Assembleia Provincial, 1882)

* atualmente correspondente ao município de Vila Velha