quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A cidade

Às vezes sinto que a qualquer instante minha vida irá começar.

Vejo imagens como relances futuros; tenho esperança de finalmente chegar.

Engraçada essa palavra: esperança; tão bondosa e tão cruel.

Pois é ela que me liga a um passado destruído,
mas também evita que eu arranque dias que virão.

É bom pensar que esses são apenas momentos difíceis.

Veja... é logo ali. Como a imagem de uma cidade pela janela do avião.

Esta manhã sobrevoei a sua famigerada casa, de onde você me expulsou. As pessoas pareciam tão distantes, tão pequenas. Mas ao lembrar que debaixo de algum daqueles telhados, você estava a respirar, perdi o ar e morri um grande pedaço. Como alguém tão pequeno pôde me esmagar tão gigantemente?

Esta tarde, contudo, esbarrei com um retrato seu. Olhei nos seus olhos e vi uma vida que não quero para mim. Senti toda dor reflexa que corrói o seu peito agora e finalmente entendi por que alguém tão grande é uma merda tão pequena.

Naquele instante, eu vivi um grande pedaço. E a minha vida jamais parou.




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