terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Pouco

O que ele quer de mim? Por que está aqui? Nossas conversas um pouco estranhas, deslocadas. Estou a pensar demais. Penso, penso. E me vem à cabeça outro. De novo? Mas não o mesmo. Esse novo. Que há pouco mandei para puta que o pariu. Mandei para longe. Para sempre. Porque cansei de esperar.

O que quero dele? Se é pouco (sempre é pouco, sempre é pouco). E imagino quando não mais nessa fadiga. É tão pouco (sempre, sempre!). Eu peço o quê, afinal? Tiro os outros, me entrego, chamo de amor (sem chamar de amor). Faço tudo.... por quê? Se agora outro vem à cabeça. (Por isso veio à cabeça?)

Jogo para fora, pouco caso. Ou deixo de molho. Ou espremo tão forte que escapa pela mão. Faço tudo... por quê? Se nem eu sei o que quero de mim. 




domingo, 3 de novembro de 2013

Breve carta inodora

Eu achei lindo. O jeito como meu amor nasceu. Nossas pernas se tocando, e meu braço escorrendo devagar em torno de seu pescoço. O carinho acanhado que timidamente fiz em você. E seu não afastamento. 

Sim, achei lindo. O jeito como uma breve noite transformar-se-ia em desejo maior. Como passei a querer estar quem só estaria de passagem. Sim, imaginei. Que você poderia querer estar comigo. E largar o que o separava de mim. 

Então quando diz que foi feio. Que se arrepende - se arrepende? Não tenho como não entristecer a alma que você passou a habitar. Não tenho como acreditar. Porque cederia muito mais... e tanto mais que já não seria maior.

Eu achei lindo. De repente. Era um menino feio. E, logo depois, achei lindo.


sábado, 2 de novembro de 2013

O destino do mundo dos homens

Quando cheguei ao barco, ele me abraçou. Era belo. E me senti instantaneamente atraído. Ainda assim, não continuei o abraço. É muito cedo! - pensei. 

Intentei então inventar paquera. Compor amor. Perguntei seu nome; onde vivia. E quais os sonhos imaginava jamais conseguir realizar. E ele ficou sem graça. Ou enfadado. E levantou rapidamente do assento ao meu lado.

Partiu para outra. E outra. E pensei que talvez já não era meu lugar. Não havia mais sinais. Mas, mesmo assim, insisti em soletrar afeto. Então aguardei. E aguardei. E planejei. E aguardei. E, ao final da noite, quando o barco ancorava na costa novamente, já éramos amizade.

Mas não amor. E deixei que me tornasse menos. Que fizesse por menos. Na esperança de que, em algum momento, ele viesse a me procurar. Quando dei por mim, já não sobrava nada. E ele não estava aqui.

Então me perguntei sobre o destino do mundo dos homens. Porque eu já era homem. Já havia falado o que não podia. E desejado ardentemente. E queimado no quarto, enquanto ele queimava  na cozinha.



segunda-feira, 23 de setembro de 2013

No mar

Queria tanto um carinho. Um abraço. Queria um sonho. Queria ser amado. Faz tanto tempo que não me sinto assim. Se já me senti assim... Talvez por isso transbordo essa carência enjoada; esse desejo suado e mal olhado; esse jeito coitado de não ser feliz. 

Então me pergunto de onde vem esse amor inventado. E por quem? Quem me ensinou a querer; a precisar. E o que preciso inventar para tampar essa dor que não cessa. Esses dias de espera pelo que um dia não sou.

Pois se hoje é você, foi você, é aquele, foram muitos. E hoje depois esperarei pelo outro; quem esse outro que não habita em mim? Ninguém.... ninguém.... 

Coitados de nós que inventamos farras, passados, judeus, bebidas, escrituras e televisão. Feliz de nós que gozamos, sorrimos, cantamos, e, em doce vingança, nos jogamos no mar. É para lá que eu vou... é para lá que eu vou; e não tenho que aproveitar, mas, se não aproveitar...

Então mato filipe, felipe, filipe, daniel. Mato elimar, carlos, celso. Mato bruno, patrick, pedro. Mato guto. Mato marcus. E mato aqueles que nem me fizeram sonhar. Mato todos. E me jogo depois no mar.

Mato pai, mato mãe, mato irmã, mato irmã. Mato avô, avó, sobrinha e tio. Mato primo... um, dois, tantos. Mato todos; e me jogo no mar.

Mato ester. Até ester? Até ester. E mato todos. E me jogo no mar.

E, quando acordar, amarei todos. De novo. E esse amor inventado novamente irá se inventar.





  

sábado, 21 de setembro de 2013

A dor

Hoje, quando acordei, eu tive um sonho. Desejei um abraço e um sorriso. Então, quando o vi de perto, estremeci. E comecei a chorar. Havia tanto tempo que não chorava. E por que estou chorando? - pensei. Por que possuo esse signo de tristeza, se a esperança é em termos fonte de alegria? 
Então percebi que era o medo. O pânico. O nó no estômago. Perder aquilo que ainda não chegou. Perder aquilo que já não posso recuperar. Chorava afinal porque a vida me ensinou que o que amo vai embora. E o que sou eventualmente deixa de ser.
Foi assim no começo. Foi assim na metade. E o fim que me aguarda aguardarei. E direi que nunca tive. E, logo depois, foi quando perdi.
A dor.



A dor

Há uma dor que brota em mim a cada dia,
com a qual ando aprendendo a lidar.

É difícil às vezes saber o que é sucesso,
e o que é ilusão.

Então pode ser que eu finja amor;
que eu invente amor;
e que eu pergunte
se há outra forma de amar.

Há a dor de perdê-la; de libertar-se.
E a dor de chegar perto e ver que nada mudou.

Há afinal esperança
de que o retorno se torne começo;
e floresça liberto
enfim.


segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O amargo

Senti nas mãos trêmulas de hoje
o medo do futuro;
vi nos olhares vagos
o pouco caso do amargo;
então percebi.

Entre vozes
de outrora
ou de nós em cordas bambas...
tão pouco certo
da fatiga.
Queria estar.

E os dentes que arranham
o dia-a-dia;
e não me deixam dormir.
E não me deixe dormir:
sossego.

Pedi tristezas;
retruquei;
ressenti;
destoei;
perturbei;
e venci.

Nas mãos trêmulas
de Wagner,
relaxei.
E o pouco caso do amargo
percebi.... você.
Aqui; comigo.

E perdi.





domingo, 7 de julho de 2013

Roto

No ha sido un dia muy largo
o tal vez si
he visto tanto
he sentido muchas cosas
y no estoy seguro
si me las gustan

No ha sido una vida muy larga
o tal vez si
porque tanto ha pasado
sin embargo,
no he visto nada
aún

Y me veo como si fuera otro tipo
Como si fuera posible
cambiar lo que está roto

Y me veo como si fuera posible
cambiar lo que está roto
aún








sábado, 22 de junho de 2013

A revolta dos cartazes

Desde que movimentos de protestos saltaram das ruas de São Paulo para todo o Brasil, um série de agentes políticos dizem-se perplexos e sem lograr entender a motivação das manifestações. Solicitam pautas protocoladas, oficiais, de lideranças. O argumento foi para boca também de muitos observadores externos, críticos das revoltas de postagens das redes sociais transubstanciadas em passeatas. A tais desencorajamentos, uniu-se também o argumento do vandalismo, como se não fosse clara a separação entre os que reinvidicam com voz e cartazes aquales que o fazem com pedras.¹
Tenham cuidado com os autodeclarados perplexos, principalmente se ocuparem cargo político. Ou são completamente cegos ou fingem sê-lo (nesse último caso, verdadeira tática de combate). Seja por um ou outro motivo, definitivamente não deveriam ser agentes políticos. Os anseios não são apenas óbvios e de longa data, estão estampados nas mensagens escritas em folhas de papel cenário, cartolina e banners. Cada chefe do executivo, membro do parlamento, secretários de governo e atuante do judiciário sabe - ou deveria saber - exatamente o que fazer. E, se não souber, que deixe o cargo para quem tenha a capacidade e a disposição para tal.
Felizmente, já surgiram promessas contempladores de alguns dos anseios das ruas. Vamos lutar para que se concretizem. E vamos lutar para que sejam apenas o começo. Eu que sempre fui um descrente da mudança pelo voto da cabine, acredito piamente na promovida pelo voto das mensagens carregadas por braços estendidos de manifestantes pelas ruas. 
E quem sabe, daqui a alguns anos, quando um historiador brasileiro esteja escrevendo sobre o movimento que viria a mudar a cara do país, apelide o esperado fenômeno não de revolta do vinagre, mas de revolta dos cartazes. 


_______________________________

¹ Podemos ainda identicar um terceiro grupo, denominado por Julio Pompeu de criminosos comuns: os que se aproveitam da situação para furtar estabelecimentos comerciais e órgãos públicos. Pompeu também advoga no sentido da desnecessidade de pautas oficiais e da obrigação dos agentes públicos de compreender reinvidicações independentemente delas. Conferir em entrevista dada ao programa Bom dia ES no dia 20/06/13 disponível em http://g1.globo.com/videos/espirito-santo/bom-dia-es/t/edicoes/v/professor-da-ufes-comenta-sobre-a-forca-dos-protestos-nas-ruas/2644764/ (acesso em 22 de junho). 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Sonho

Acordar para o alívio:
apenas um sonho.
Agradecer
à não psicose.

Sim
(quase) tudo se resolve
quando o sonho apenas
é problema.

Acordar para o desespero:
apenas um sonho.
Amaldiçoar
a não psicose.

Sim
(quase) tudo se destrói
quando sonho apenas;
é problema.

Porque sonhar com você
me dói.
Porque sonhar lembra
que não esqueci.

Queria acordar e não me importar
com a lembrança lembrada.
Então paro e penso:
teria sonhado
se não fosse assim?


domingo, 2 de junho de 2013

Sinto sua falta

Sinto sua falta
no café da manhã de domingo;
nesses dias que em que
não há nada bom para fazer.

Sinto sua falta
nessas horas em que
tenho vontade de chorar
porque as coisas perderam a graça.

Sinto sua falta
de novo e de novo
porque é bom distrair o corpo
e ter com quem conversar.

Sinto sua falta
nos passeios que planejei;
nas carícidas delicadas
que você não mais irá dar.

Sinto sua falta
na semana que vem
e no ano que vem
e no tempo depois.

Sinto sua falta
nas festas de aniversário,
nos dias em que algum significado
teria dado a mais para mim.

Sinto sua falta
do meu lado
abraçado
com o coração preste a partir.

Sinto falta afinal
de tudo que poderia
e não foi
de tudo que deixei para trás.

Sinto sua falta afinal
num futuro imaginado
e nesse dado
que não me faz sorrir.





terça-feira, 28 de maio de 2013

Se partir

Não saberia dizer exatamente
quais palavras fariam-no ficar ou,
ao menos, perceber o quanto o quero aqui.

Eu entendo que não é fácil...
o mundo tornou-se um lugar tão assustador
desde que cessaram as cantigas de ninar
e a vida transformou-o em um homem.

Esse medo de não saber o que virá
ou mesmo se poderá lidar com as escolhas
que está fazendo.

Essa solidão permanente
no meio da multidão...
querer gritar e temer - ou ter a certeza -
que ninguém irá ouvir...

Então as palavras me faltam, é verdade.
Porque não posso prometer um mundo
que ainda não existe...

Por isso, entendo perfeitamente se partir.
Não guardarei mágoa, ou rancor.
- Tentarei, ao menos, eu lhe juro.

Como não poderia?
Se o pouco tempo que você está aqui
já me despertou tanto amor...

Talvez nem sinta falta das noites
de abraços apertados,
das gatas que pulam em seu pé na cama
e dos beijos que tardam ao começar.

Entendo então perfeitamente se partir...
e continuarei admirando
esse incrível homem que apareceu no mundo.

E quando estiver no fundo do oceano,
com seus pulmões cheios de água,
não será apenas a morte que estufará seu peito,
mas também o adeus dos que o amaram
e choraram ao sentir você partir.












segunda-feira, 13 de maio de 2013

Y de pronto respondí

Seguí pensando hoy
que no me queda mucho más
que no me hace sentir más
peró ya decidí

ya que tengo que vivir
extrañaré los días por venir
y dejaré los que pasaron
pasar

y cuando miras en mis ojos
verás vida quizá
y la muerte a esperar
lo que sea

no hay nada que decir
tampoco lo que sentir
porque ya no tengo electión

y no tengo que quedarme
es verdad
que hago entonces - me pregunto
y de pronto respondí
que te amo.






quinta-feira, 18 de abril de 2013

O parto

Fiquei surpreso; talvez nem tanto quanto imaginaria; talvez apenas sem reação, ou alguma com sentido. Eu sei que não é perfeito - apesar de, por tantas vezes, ter-lhe dito o contrário -, mas é estranho vê-lo humano. Vê-lo como não esperaríamos de nosso grande amor. 
Há alguns dias descrevi minha impressão de que não havia mudado. Hoje, mais um indício nesse sentido. Quase repetimos nosso primeiro modo de fazer amor. Ao menos, de minha parte... porque o amei desde o primeiro oi que me escreveu; da primeira imagem que vi; logo que percebi que havia você no mundo.
Então como explicar a rejeição - ou a ausência de impulso enigmático - que senti hoje? Como explicar que queria ver a Fabio e não a você? Talvez foi medo... ou cálculo... ou pena de mim mesmo. Porque orgulho certamente não foi. Então não mandei mensagens; não fingi personagem; e não imaginei um mundo em que não morri.
E, provavelmente no futuro, farei como fez, e não mudarei. Não me tornarei uma pessoa melhor; não terei o casamento perfeito; não consertarei os erros que cometi; e não serei feliz. Não viverei no presente um amor do passado, mas tampouco o passarei. 


quinta-feira, 11 de abril de 2013

Apenas mais um.

Os rituais podem doer. A família em volta da mesa a fazer uma prece. Porque parece fazer sentido. Porque sempre foi assim.
Talvez me sinta isolado no mundo quando os rituais me chamam. Talvez sinta raiva de querer mais do que o mundo pode me dar. Ou quem sabe seja pena do que não posso ter; a mesmice; o lugar comum.
Quem afinal tem medo de morrer? São poucas as pessoas que mencionam seus sentimentos. Não desejam pensar... e repetem que a vida é uma passagem. Às vezes penso que sabem que não é. Às vezes acredito em sua inocência. E às vezes acredito na minha; a mesmice; o lugar comum.
Um dia estava observando a carinha de Fulana; reparei nos detalhes de seu rosto; na beleza dos seus olhos. E chorei ao pensar que um dia já fomos um. Que carrega em seu corpo uma grande pedaço de minha história. E nada mais importa.

Vivo no mundo dos idiotas... sou apenas mais um.

segunda-feira, 8 de abril de 2013


As vezes que te vi depois que nos separamos me tocaram de forma diferente. Você deve ter percebido isso. Na primeira, chorava incessantemente; na segunda, permaneci quase mudo; e nas últimas consegui fingi certa compostura. Você não pareceu - mesmo que de relance - ter mudado muito. Provavelmente não o fez. Provavelmente ainda detem muito daquele garoto de 18 anos que conheci na primavera de 2008.
São alguns os pontos que me ligam a esse passado, são como nós que não me deixam desmanchar... ou  mover muito. Por isso, é difícil classificá-los em bons ou ruins (embora fazê-lo seja grande parte de meus passatempos). Um deles era o ar de mistério que mantinha, como se guardasse algum segredo com o qual não saberia lidar, ou que não poderia entender. Talvez tenha sido essa a maior inspiração para o livro (o qual até hoje não sei se leu, porque sobre ele nunca comentou). Mas sabe... eu não acho que havia segredo nenhum, ou, no máximo, tratava-se um segredo inventado.
Isso não é necessariamente ruim. Também não creio que tenha sido algo intencional. As minhas reações certamente não são o melhor termômetro.
Mas dizem alguma coisa. Você se lembra de quando falei que haveria um preço? Que sua decisão de partir implicaria algo? Você possivelmente soube - ou já sabe - do que falava. Chorei, parmaneci calado, fingi compostura. Finalmente, jamais o  (a)paguei.  

domingo, 7 de abril de 2013

Estado Laico

Volta e meia, ouço ou leio a afirmação de que o Estado brasileiro é laico e não ateu [normalmente, claro, dita por um teísta]. A frase em si é bastante significativa [e, para mim, bastante entristecedora]; não exatamente pelo seu conteúdo, mas pelo que revela de seus interloculores [ou seja, a maioria esmagodora dos brasileiros, já que tal colocação só poderia ganhar a boca do povo em um Estado teísta, onde se encontram crucifixos nas paredes de tribunais e casas legislativas, canções gospeis nas sessões públicas, Deus na Constituição, argumentos religiosos nas fundamentações judiciais, feriados católicos, para mencionar apenas indícios externos].

O que afinal significa dizer que o Brasil é laico, mas não ateu? Quem o diz, justifica-o completando que aqui ninguém é obrigado a não acreditar em deus. A laicidade traduziria assim a liberdade de crença, inaugurada no Brasil pela corrente positivista que arquitetou a chegada da República. Apesar de alguns pontos controvérsos, poderíamos até afirmar que, ao menos formalmente, o Brasil adote, minimamente, tal opção política [meus pêsames nesta hora ao seguidores do candomblé e da umbanda].

É importante lembrar, entretanto, que o termo laico possui n acepções, principalmente quando analisado historiacamente. No mundo helênico, por exemplo, a laicidade traduzia a ideia de que certas normas não tinha origem divina, mas nasciam de acordos entre os homens. Nesse contexto, a laicidade pode ser associada ao juspositivismo [embora nem todo direito natural tenha como base a religião]. Adicionalmente, o Estado laico também pode ser compreendido como leigo ou secular, ou seja, separado da Igreja.

É nessa terceira acepção que gostaria de me concentrar, especialmente porque é aquela que grande parte das pessoas atribuem ao termo. Mas, antes de fazê-lo, é preciso retornar ao outro combatente da frase inicial: o ateísmo. Embora utilizado comumente em paralelo à religião, o ateísmo dela bastante difere [além de seu conteúdo, obviamente] na medida em que possui base ontológica completamente diversa: enquanto as religiões baseiam-se na crença, o ateísmo caracteríza-se pela descrença. O objeto deus ocupa no ateísmo posição meramente político-social, já que sua influência está diretamente ligada às pessoas que o usam como argumento no discurso. Para religiosos, por outro lado, deus não é somente objeto político ou social, mas entidade per se e razão de ser do homem.

Tomando por base o parágrafo anterior, a afirmação de que o Estado brasileiro é laico e não ateu perde totalmente o sentido, já que para o ateu (assim como para o Estado separado da Igreja) deus não faz parte de sua base de sustentação. Nesse Estado laico (ou ateu), a religião não desempenharia papel, já que deveria ser reservada à esfera privada. Dessa forma, pode-se afirmar que o Brasil é um Estado religioso, o que reflete com muito mais lealdade a opinião dos interlocutores da afirmação contraditória, com a qual tenho que concordar. 




sexta-feira, 5 de abril de 2013

Reflexo

Por vezes ouvi sobre a busca da essência;
das pessoas que acreditam num mundo platão
e na plenitude da vida ao encontrá-lo.

Como se houvesse um certo e um errado;
ou o bom e o malvado;
ou, ao menos, o querido.

Que tarefa difícil:
procurar no espelho os defeitos
que seu falso eu deixou!
Conseguiria afinal distinguir
da imagem que entristece
aquela que realmente não sou?

Não o creio.
Tudo não passa de medo...
de aceitar a feiura,
ou mesmo de querer
sua objetividade.

Então olho no espelho agora
e não tentarei reconhecer a face
que gostaria de ter.
Tampouco a desejarei.

Não se trata de haver...
(verbo impessoal)
esse rosto.
Trata-se de haver
(verbo impessoal!!!)
essa inquietação...



domingo, 31 de março de 2013

Codicilio

[Eu não quero ser enterrado;
não quero um túmulo para lembrar que existi
(tão triste necessitá-lo para tal!);
e não quero que a língua suja da igreja
fale a respeito desse evento.]

Não acredito que a vida seja uma dádiva
(mas certamente também não a vejo como um farto;
pelo menos, não a todos).
Por isso penso ser tão triste que ao suicídio
não seja dado mais respeito.

Creio que um dia meu super-ego não mais
tirará minha liberdade de escolha.
Não sei o que acontecerá nesse dia:
Septimus ou Clarissa.

Porque é a liberdade o que mais almejo:
cessar os medos que me inibem a cada instante do dia.
Daí meu fascínio com a morte
(esse presente que a vida nos deu),
e ainda maior com a morte planejada
(esse presente que a vida pode nos dar).

Então é possível que um dia eu me vá,
por algum motivo que pareça sem importância;
mas só o faria se encontrasse a mais bela felicidade:
a de (não) poder decidir.




terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Apesar de

Seria melhor se eu simplesmente não reconhecesse a imagem do espelho;
seria mais fácil, menos dolorido e quiçá lugar feliz.

Se me convecesse que não fui eu... ou que foi um momento.
Que não sou essa pessoa... pessoa?!
E seguiria a caminhar.

Mas fui eu. As palavras foram minhas. Escolhi assim.
E agora pago.

Certa vez disse Ester ser a vida um 'apesar de'.
E como queria que estivesse certa;
que esteja certa.

Pois apesar de, ainda vivo... estranhamente talvez.
Essa existência que me cotorce os ossos
e aperta o nó que coloquei na garganta.

Se ao menos fosse apesar de vivo
apesar de tudo, a cura não logrou.