Volta e meia ouço algum comentário, ou leio algum texto, sobre o quão difícil pode ser dizer algumas palavras. Sobre o quanto dói, o quanto inibe, o quanto assusta a expressão. Eu concordo. Não concordo, contudo, sobre exatamente quais seriam essas frases tão árduas de se pronunciar. Isso porque quando ouço esses comentários, ou leio esses textos, normalmente seus autores fazem referências a declarações de amor, ou confissões de erros, ou grandes segredos que por muito permaneceram enterrados.
Posso até entender esse posicionamento. Mas, para mim, esses nunca foram grandes problemas ou, se o foram, certamente não eram os maiores. Não é fácil às vezes dizer que se ama, que se odeia, que errou... mas, quase sempre, fazê-lo é inevitável, ou mesmo extremamente gratificamente.
Na minha vida, por outro lado, o mais duro tem sido enxergar o cinza. Admitir que o amor e o ódio, a raiva e a paz, o bom e o ruim, e quaisquer outras impressões que há em mim são apenas isso: impressões. Porque o que me mais dói é lidar com um amor que não consigo controlar e saber que odeio o que não é fundamentalmente mau. É engraçado pensar que, quando Aristóteles ensinou-nos a classificar, ele tornou a vida inocente, tolerável e demasiadamente injusta.
Então, quando hoje acordei e percebi que o homem que quebrou meu coração foi bom para mim, eu vivi um desses momentos. Um desses difíceis momentos que talvez jamais conseguirei completar. Escrever este texto talvez seja parte dessa árdua tarefa, embora - ou porque - não acredite que chegará em suas mãos em algum momento do futuro. E o dia em que olharia em seus olhos e diria obrigado não é, de fato, imaginável.