Rapazes.
Assim estava escrito no pedaço de papel para controle das mesas. Havia também um casal; uma família com duas crianças; senhor de boné. Nós éramos apenas rapazes.
Estranhei quando li. Não que não pudesse nos definir - ou, ao menos, nos identificar - dessa forma. Poderia. E também não que fosse ruim. Não o era. Era apenas muito pouco. Muito pouco para mim.
De onde vem essa sede; às vezes, me pergunto. As cartas foram dadas e recebi talvez muito mais do que merecia. O que eu merecia? Ou até melhor: o que eu queria?
Não esse querer esdrúxulo. Esse querer óbvio. É claro que é ele que eu quero. É com ele que tenho sonhado. É ele que tem feito eu voltar a lugares tantas vezes visitados, mas que tiram meu fôlego a cada vez que retorno ali.
O que eu quero? Um romance de romance, com uma puta trama, cheio de contornos. Nada simples... nada simples. Simples para quê? Eu quero isto: que rapazes que são então rapazes e nada além de rapazes se transformem em amantes. Que se amem. Não um amor dado... assim de supetão. Um amor construído, conquistado, merecido grão a grão. Um amor que transforme carne. Que transforme alma. Que transforme tudo.
Veja... não são rapazes. São tão diferentes. Porque um quer esse amor lapidado, quase arrancado, uma odisseia; enquanto ele próprio derrama um amor tão fácil... de graça... que vem do ar. São dois antagônicos. Não têm nada a ver. Um quer tudo e dá tudo. O outro quer algo e dá algo. Tudo e algo não têm nada a ver.
Eu lembro então das lágrimas que derramou no cinema. Eu lembro então da atenção quando atenção não era devida. E lembro desse rapaz lindo, tão lindo, que por algum motivo, e talvez por esse motivo, ainda não encontrou amor. E que não me rejeitou. Não me rejeitou. Tinha tudo para fazê-lo. Tinha algo por fazer. Seria compreendido por qualquer um, se assim procedesse. Se não apenas não mergulhasse, mas desprezasse cada centímetro de aproximação. Mas decidiu que não.
São dois rapazes na mesa. Eles estão na praia almoçando. Rapazes... isso é tudo que são.