Hoje de manhã, algo estranho aconteceu. Estranho e revelador. Acordei pensando na noite anterior; estava excitado, mas, ainda assim, não quis me tocar. Queria deixar meu corpo sentir aquela onda de energia.
Há tanto não tinha essa coragem. Ao menor desejo, já o expelia de meu corpo. Não em busca de prazer, mas justamente como forma de encerrá-lo. Foi a maneira que encontrei de camuflar o que mais temia. Foi a maneira que encontrei de não sucumbir em minhas perdas.
Então, eu comecei a chorar. Não conseguia segurar a felicidade, ou a surpresa, ou mesmo o medo desse novo velho momento. Porque havia tanto que não desejava assim. Que não acreditava ser possível desfazer a maldição que eu mesmo me colocara. Havia esperança. Eu poderia amar de novo - ousei em pensar. Eu poderia de novo - agarrei-me a esse pensamento por um segundo.
Um segundo. Quanto mais poderia lograr? Quanto mais aguentaria meu corpo suportar a força contrária que me puxa constantemente ao abismo? Permaneci então nesse estado latente de alegria e estranhamento. Porque não acreditava, de verdade. Não acreditava ser possível assassinar o demônio. Deixar de lado a dor que me consome mas que, ao mesmo tempo, permite-me existir.
Quero libertar-me da dor. Isso dizia meu corpo. Ao permanecer excitado, o medo se desintegrava; o ar à minha volta se tornava mais dócil; o mundo parecia, de alguma maneira, um lugar melhor. As lágrimas que caiam pareciam limpar minha alma. Curar-me. Eu podia finalmente ficar confortável em apenas duas pernas.
Eu levantei. Poderia tentar andar? Cambaleava um pouco. Posso e não posso. Agora eu vou. Agora eu paro. Sonho. Temo. E segui o dia. Ora receoso, cauteloso. Ora avassalador. Uma esperança. E uma desilusão. Quero mais - eu me dizia. E tentava. E seguia.
E o momento acabou.