sábado, 28 de junho de 2025

Amor

O que é amor? Quando se fala "eu te amo", o que exatamente se quer dizer? Eu pensei no amor e em sua história. Quando o amor apareceu. Sua manifestação mais remota. O cuidado do genitor pela sua prole. O amor talvez tenha nascido nos números, na transição gradual para poucas crias. O amor é querer evitar, ou mesmo temer, que parte de nós se vá antes que possa ela mesma se particionar. 

E não aí ficou. Veio o altruísmo genético: o amor pelo pares. Veio o amor pela mãe; e pelo pai (quando aventurou-se, entre outros, a monogamia). Vieram outros cuidadores. Veio a adoção. Os animais de estimação. Vieram os amigos. Veio até a paixão. E veio você.   

O amor não é apenas história.

O amor está aqui, em mim. Nas lembranças que tenho das coisas que perdi e daquelas que jamais irão. Na sensação que meus sentidos criam: essa certeza ingênua de que você (de fato!) existe e que, mesmo que se cesse, permanecerá parte de mim.

O sentido do amor então talvez seja o mesmo dos genes que o criaram: a eternidade efêmera.



 



domingo, 18 de fevereiro de 2024

Split

When I saw you arrived alone, I felt happy. Strongly. For I would have time to listen to you. To know you. I would have your rapt attention. It is quite difficult to be in this ambivalent position: with the will to know and the will to give an abiding strong good impression. 

You see... this is no unfamiliar territory to me; but it is one I haven't entered in quite some time. I have found this comfortable place of no intense (but perhaps pent-up) emotion, from which I did not want to leave. 

But then you came along. Or I came along. I've formed this unfortunate habit of make-believe. A escape from a reign of sadness where I rule unjustly and alone. It would be hard to judge me for doing so, but guilt is an obscene loan word coined by the merciless who inhabited this land before me.

When he arrived I felt rather angry. Not at him, I imagine; maybe at you. I don't suppose it showed. I gave in to my weary cynicism and tried somehow to make most of it. And it didn't take me long to realise it. To see beyond the obstacle and into the man. 

Fission. This powerful fatal attraction; that genuine frank admiration. No longer together. Like adultery in a marriage that never took place. I should be relieved in a way, I guess. In an inconvenient way at least. So close strong a tie that severs before it could cement. The faint possibility of passion that is precluded. 

And stands still. Admiration can be drawn; attraction can begin to grow. So I am lost in a maze without exits; though I keep looking for them. A desperate crude attempt to give meaning to something that already meant something else. A schizophrenic relationship to those I stubbornly insist to hold dear.






sábado, 5 de março de 2022

Na manhã do dia seguinte, ele lembrou.

Quando existi, 

perguntaram por quê.

Sou ramo da existência.

Faço parte do que me antecedeu.


Construção passageira de um código perene.

Necessito deste para ser; e este de mim.


Cada trecho, um aglomerado acumulativo.

Produto e causa de sinais vitais.


Quando existi,

perguntaram para quê.

O texto, mesmo com fim,

permanecerá, 

mesmo sem mim.


Cada trecho, um aglomerado acumulativo.

Produto e causa de sinais vitais:

a poesia me recitou.

sábado, 22 de maio de 2021

 

L.,

Escrevo esta carta para alguém que desconheço e conheço. Desconheço porque nunca nos vimos ou falamos: estranho dirigir a palavra nessas condições; não saber exatamente como será a reação a uma leitura íntima vindo de quem existe – na melhor das hipóteses – apenas na imaginação. Porém, também sinto que a conheço. Já vi fotos, ouvi histórias, formulei hipóteses sobre que tipo de pessoa é, seus hábitos, medos, sonhos. E, principalmente, conheci um de seus frutos.

De certo modo então, esta é uma carta de duplo endereçamento. Não quero dizer que esteja com destinatário errado. Pelo contrário: quero muito que leia estas palavras, acredito existir um propósito importante nisso. Mas também não posso afirmar que seja destinada apenas a você. Faz muito mais sentido, principalmente em um primeiro momento, revelar este escrito a T. Assim tenho feito, ainda que numa tentativa mais comedida, recheada de receios: de que se assuste, de que se sinta esmagado por uma avalanche de sentimentos que nem eu saberia precisar e dissecar muito bem. Escolho então um interlocutor especial, que me permita chegar próximo, quase tocar e, com mais tranquilidade, sentir-me escutado.

Primeiramente, queria falar um pouco de mim, ainda que se descrever costume ser uma tarefa ingrata, que se perde entre um anseio – o que gostaria de ser – e uma expectativa – como acho que me veem. Quase sempre é também falha, porque a essência parece muito mais uma construção utópica, uma falácia da qual nos convencemos para poder construir e reconhecer uma imagem no espelho, mas que, no fim, é mutável e incerta. Apesar dessas limitações, quero arriscar-me nessa incumbência, para ajudar a explicar meu propósito aqui.

Em minha autodescrição, entre todas as palavras que poderia usar, eu escolheria falta. Todos temos falta, sentimos falta. Em mim, porém, esse sentimento parece ganhar um contorno mais marcado, mais explícito. Porque sinto falta constante, ainda que não seja uma qualquer: minha falta é de amor. Eu não me lembro de jamais me sentir amado. Minha vida foi marcada por outros personagens muito diferentes, sendo o maior deles o medo. Sempre senti muito medo. Medo de apanhar, de ser humilhado, de ser julgado. Medo de que pudessem olhar para dentro de mim e enxergar tudo que desejo, tudo que temo, e de verem assim o quanto sou só.

Imagine então o que foi para um rapaz que sempre testemunhou e vivenciou esses olhares sádicos esbarrar pela primeira vez com alguém que lhe dissesse sim. Que lhe estendesse a mão e falasse que está tudo bem em ser diferente. Não hesitar em tirar a máscara, despir-se, deixar nu o que esteve por tanto tempo escondido. Eu me apaixonei. Não havia como ser diferente. Não havia como encontrar algo tão raro e não desejar ardentemente. Poderia até dizer que não acreditava na existência de um desejo tão forte. Pelo menos, não mais. Eu era um romântico platônico, mas as experiências mundanas arrancaram, pouco a pouco, a minha gana. Era um cliché invertido: sem receber, também já não podia dar amor.

T. provou que eu estava errado. E o fez da forma mais delicada e generosa possível: tratou-me como um ser humano. E sei que não sou exceção. Sei que sua doçura permeia cada encontro com quem tem a sorte de conhecê-lo. Ele é educado, gentil. Às vezes, quando lembro dele, começo a chorar, porque me dói saber quem algo tão belo existe no mundo. Foi um choque muito forte. Um baque do qual ainda estou me recuperando. Isso me assustou: eu, já tão acostumado com o medo, agora receio não dar conta de tanta ternura, de não ser capaz de retribuir o ele desperta em mim.

Mas não quero ter mais medo.

Então irei me entregar. Irei me esforçar a cada dia para ser alguém melhor, alguém digno de estar ao lado de seu filho. É sonho, quase insólito, imaginar poder acompanhá-lo nessa jornada. Mas é exatamente o que quero. Uma jornada de companheirismo profundo e de um amor que não cabe no peito. Quero vê-lo feliz, extravagantemente feliz, porque assim ele me faz.  E, por isso, eu gostaria de agradecer a você. Por ter trazido ao mundo e ajudado a construir quem mudou a minha vida. Eu o amo, com toda minha alma, e poder amar é o maior presente que já ganhei.

 

Obrigado,

 

Vitória, 30 de agosto de 2018.

 

 

segunda-feira, 9 de março de 2020

Con palabras

Las palabras asustan. Ello aprendí muy temprano. Las palabras crean lo concreto. Transforman en cristal duro  irrompible  lo que antes era fugaz. O no existía. O sólo existía donde se puede tocar. 
Las palabras duelen enormemente. Porque de algún modo son lo más real  o lo único real  que podemos concebir. Los humanos, esos seres-palabras: no porque vocales, sino porque construidos sobre, para y en el límite de las palabras. Más allá nada hay.
Quisiera creer que no es así. E incluso lo hice. Pensé que existiera la transcendencia. O la simple existencia sin que sobre ella fuera obligado a reflexionar. No es que fallé: no había posibilidad. Sufrí, sin embargo, las consecuencias de mi ingenuidad. 
Por ende te lo dije sin palabras. No quería herirte. Herirme. Mas fue exactamente lo que pasó. Porque las palabras estaban allí. En mi mirarte. En mi imaginar que sería posible tenerte in mis brazos. Sentir tu abrazo. Saber lo que significa ser tuyo. Mis manos al tocar tus manos te lo dijeron todo. Usaron todas las palabras ya inventadas y las que aún intentarán - y fallarán - llenar el vacío.  Susurraron 'te quiero' y, al hacerlo,  berrearon mi soledad. 
Quizá por eso nos asustamos y nos alejamos. Ya no podíamos fingir. Mi deseo se volvió cristal  irrompible. Y este ser-palabra ya no tendría chance de decirte nada más. Tu te fuiste, y me quedé a buscar palabras que podrían consolarme. Tan ubicas, y ahora tan fugaces. Tan poderosas, y ahora completamente inútiles. 



domingo, 8 de março de 2020

Desculpe-me

Eu vi seu rosto e não desviei o olhar.
Desculpe-me.

Você sentou-se ao me lado e o cumprimentei.
Desculpe-me.

Fiz perguntas, enquanto não parava de sorrir.
Desculpe-me.

Pedi seu telefone.
Desculpe-me.

Esperei alguns dias, antes de puxar assunto
(tanto medo tinha de não ser respondido).
Desculpe-me.

Quis saber de você, quem é você.
Desculpe-me.

E não cessei quando meu coração já dizia
que era tarde demais.
Desculpe-me.

Quando te vi novamente, me aproximei.
Desculpe-me.

E você, tão gentilmente, não me deixou de lado.
Desculpe-me.

E passei uma tarde de sol
caminhando ao seu lado,
ouvindo sua voz.

Em minha casa, a tarde virou noite.
E que fosse boa companhia
era tudo que queria.

Desculpe-me.
Desculpe-me.
Desculpe-me.

No outro dia, dizer adeus foi difícil.
Segurar as palabras foi difícil.
Desculpe-me.

Esperar e não saber o que seria de nós.
Vê-lo outra vez e sonhar.
Desculpe-me.

Desculpe-me por escolher o momento.
Se as minhas razões não são boas razões.
Se meu coração bate do lado errado.

No momento que você se foi, eu me fui também. A manhã já não era a mesma, e o amanhã deixei para depois.

Desculpe-me.   







sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Apenas palavras

I miss you,
I've been missing you for some time now
for it has been some time now
since we last talked.

I remember how sad I was
even though I forgot how sad I was
for this little while.

I cannot say you healed me
nor that I am healed
I am not healed,
but I'm better.

I've been better for some time now
for it has been some time now
since we last talked.

You helped me so much
and I didn't realised how much
'til you were gone.

That's how it works, isn't it?
You do your thing
quietly, slowly, unpretentiously
and it works.

It works.
It worked for me.
And I thank you so very much,
my love.